quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Desafogando

Semana passada, participei da final do festival de poesia da UFMA e não fui premiado. Não vou mentir dizendo que me bastava participar, é claro que eu não só queria ser premiado como vejo que tenho mérito para tal. Ainda assim, o 1º colocado necessitava bem mais do prêmio que eu, mas não merecia tanto. Não vou ficar me queixando, o que está feito, está feito. O ponto ao qual quero chegar é: como coloca sentimentos e idéias num pódio?
O artista sente e transmite - cada pessoa pode se identificar, gostar ou não. Como classificar Beethoven, Bach e Vivaldi? Peguemos a 5ª, Fuga em G e as Quatro Estações, qual é a melhor? Quais critérios podem utilizar para classificá-las num pódio? Várias pessoas podem não gostar de um ou gostar de outro, mas é ilegítimo dizer que um é melhor que outro. Assim como colocando Pessoa, Drummond e Rimbaud em um embate eu posso ter minhas preferências e afinidades, mas como eu vou classificá-los? É claro que estou falando de gênios imortais que ultrapassaram seu tempo.
Mas trazendo para a realidade atual, um júri técnico tem lá seus critérios, mas para ser técnico, não pode deixar sua subjetividade influenciá-lo, e agora? Qual a unidade da arte? Não há. Arte não pode ser julgada com legitimidade.
Entre Picassos e Michelangelos não há vencedor, entre meros mortais também não, mesmo que digam o contrário. Estamos fadados a ser julgados, avaliados, classificados, até o fim de nossas vidas, ou quase. Qualquer um pode perceber que um grande artista só é devidamente reconhecido próximo ou depois da morte.
Abaixo o poema do concurso, que lerei novamente dia 14 na 2ª feira do livro


Desafogo

A linha do horizonte
é tênua e árdua
é nosso matrimônio
Nos une e nos corta ao meio

A imensidão em nós se espelha
Morte e Salvação
Vida e Perdição
Começo e Fim

O horizonte nos reflete
Quem sou eu? Quem é você?
No fim não há diferença
A quem chegar, um troféu
De ouro, marfim, sal e algodão.

No caminho de casa, todos podem te ver
Na saída, querem tocar sem poder
Quanto mais perto, mais distante parece
Ao beijar-te no horizonte, sinto que estou livre.

Sinto nossa assimetria
De um lado, uma promessa
Do outro, uma dívida
Dos dois, uma dádiva - de quem não se sabe.

Sinto que podemos enganar a todos,
mesmo estando enganados

Calmos e Selvagens
O lobo e a ovelha
O mundo é o meu pastor
e tudo me faltará

E no fim, em ti acabarei
Com ou sem esperança
Com ou sem crença
Sem mágoa ou doença
e a pureza de uma criança

"Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena"

.

E até a próxima quarta.

3 comentários:

Marcos Cordeiro disse...

Tem a fuga em D também (de Bach) né? xDD

Dia 14 é terça né? acho que vou lá te ver ;)

Anônimo disse...

Panelinhas sempre elas...
Teu poema é lindo isso que importa nunca deixe de escrever!

Te amo =*

Anne Catarine disse...

hum.. Otima crítica!
Verdade, como julgar arte? Meio inreal isso, como julgar gosto, identificação, enfim, o importante é o ato de escrever, mesmo que esse nem seja a tal chamada arte, mesmo que sejam frases bobas sem conecção, a intenção é o que mais vale!
Um beijão querido amigo, como Dani disse, nunca deixe de escrever! :)