quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Um breve excerto autobiográfico
Quando eu nasci, nem um anjo me veio.
Nem um safado torto desses
Muito menos um diabinho.
Ninguém para me falar nada.
Mal lembro da sala do parto
Quando parti para o lado de cá
Qual ainda não sei se estou;
À escola sempre fui indiferente
E sempre fui reclamado, reclamando
E fez diferença?... tolo sou eu de perguntar;
Meus deuses(,) todos me falsaram!
Não tiveram oportunidade de me abandonar
E a cerveja por me esperar, esquentou;
Se rimas eu pudesse fazer, poeta quiçá seria
Há quem diga que fosse musicado;
Os tempos não importam muito
O sol confunde a lua confunde o sol con funde.
Que confusão!
Sou todos, qualquer e nenhum!
Sou tudo o que afirmam de mim
E nada do que dizem por aí
Se vou até o fim, não sei
Mas decerto já posso afirmar:
Vou dar tudo de mim!
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Eu, por exemplo, nunca consegui.
Sou fadado à dor, ao sofrimento, à solidão, mesmo tendo nascido sem essa vocação.
Mesmo em meio à multidões, obrigações, amigos, diversões, na correria do trânsito, das aulas, das burocracias, em meio a canções, vinhos e afins eu estou sempre. Sempre só.
Solidão nem tanto, as vezes tarda. A dor sempre me acompanha, me garante sua eterna companhia e abrigo, me roendo por dentro.
Sofrer talvez não seja de todo ruim. Quando, assim como eu, acostuma-se com a sua presença, torna-se até agradável.
A certeza de ter dor o suficiente para preencher meu vazio me tranquiliza e me faz pensar, que eu seria se não sofresse?
Me faz não ter resposta, mas saber que não preciso de uma, a questão me basta.
A dor me faz como sou, mais vivo e menos só.
Muitos sofrem pelo carro que foi roubado, pelo dinheiro que perdeu, pelas contas que não pode pagar, pelo amor que se acabou, pelo time que perdeu, pelo irmão que partiu sem volta, pelo pai que já morreu...
Eu sofro por sofrer.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Tenho pensado muito sobre o tempo e sobre essa eterna corrida entre o tempo e os humanos, quem é mais veloz?
Quando mais precisamos dele, ele nos deixa comendo poeira. Resolvi deixar hoje dois poemas sobre o tempo que escrevi há muito tempo e apesar do tempo, ainda é tempo.
"O tempo pára. Numa canção, numa fotografia.
Seja paixão, poesia. Tudo se liga e paralisa
Peguemos o tempo e jogue numa caixinha.
Deixemos pra lá essa idéia boba de horas e tudo mais.
Esqueça o mundo, tire férias de si, suplico
Vamos deixar o tempo esperar
Aprisionado em caixas velhas e vazias
Cheias de mofo
E escapar, se abandonar
tomar tragos da mais profunda solidão
e fazer orgias com fantasmasgozar na cara do vento
e depois chorar e fingir culpa
Quem vai saber? O que vão fazer?
O tempo pára e a gente não tem tempo pra perceber.
Prefere viver num teatro sem fantasia
Eles não querem esquecer o mundo
Não têm tempo para férias
"O tempo não pára e a gente ainda passa correndo"
Talvez o tempo não pare porque eles sempre passam correndo
Pra mim
Ele parou"
"Tempo que passa, não volta mais
não é tempo perdido
Saudosismo imensurável
Tempos senismerecem o cuidado necessário
se abandonados num asilo
aí sim, são esquecidos
vira tempo perdido
uma cova negra em nossas vidas
pessoas sepultadas no tempo
perdas que não voltam atrás
que com o tempo que passa
desfilam despercebidos pela
estação"
...
"Obras de arte são de uma solidão infinita, e nada pode passar tão longe de alcançá-las quanto a crítica. Apenas o amor pode compreendê-las, conservá-las e ser justo em relação a elas" - Rilke
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
A implosão da mentira
Fragmento 1
Mentiram-me.Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
Fragmento 2
Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.
Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre.Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre.E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.
E assim cada qual
mente industrial?mente,
mente partidária?mente,
mente incivil?mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.
E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país
de mentira
—diária/mente.
Fragmento 3
Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.
Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.
Mentem como se Colombo partindo
do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.
Mentem desde Cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.
Fragmento 4
Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.
Penso nos animais que nunca mentem.
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.
Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre no mel
silvestremente.
Penso no sol que morre diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.
Fragmento 5
Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.
Para tanta mentira só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.
E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Beethoven, por exemplo, no ápice da sua produção intelectual, a famosa “crise criativa” também estava no auge da sua dor, completamente surdo e mergulhado em problemas pessoais, internos e externos. O próprio Rilke foi infeliz desde a sua infância, devido a traumas familiares, solidão e conflitos emocionais, diversas doenças, a velha busca de um deus, e suas questões existenciais. Rimbaud, Cazuza, Van Gogh... tantos outros artistas, de tantos lugares e épocas estão fadados ao sofrimento em troca da produção artística.
Eu ando em busca de mim e do que me faz sofrer. Eu preciso escrever para sobreviver, para me sentir mais leve, para buscar e sentir a vida. Cansei de querer escrever para impressionar, para ser recompensado, para ser lido, criticado. Cansei de olhar para fora e esperar respostas, esperar um deus que nunca vem, ou a manifestação de um diabo pintado pelos homens. E só hoje eu vejo o quão tolo eu fui e quanto eu ainda sou.
Preciso escrever para me sentir, em mim, de mim, para mim, escrever para me satisfazer, para me esvaziar e me preencher. Preciso escrever para me renovar, morrer e renascer a cada letra que costuro as entre linhas. Preciso desenhar com palavras minhas próprias mentiras, fugir do medo, parir meu mundo. Preciso escrever para poder respirar, para poder existir, buscar razão na razão. Preciso escrever porque tenho tanto a dizer e sou incapaz de falar e ao escrever eu me desnudo do mundo, me transporto para outra estação, em que tento ser livre mas continuo sendo um copo vazio...
Complementando um post do passado:
“Uma obra de arte é boa quando surge de uma necessidade. É no modo como ela se origina que se encontra seu valor, não há outro critério.”
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
de pensamentos alheios
rodando sem órbita
Sobre o orgulho e a vergonha de nascer brasileiro
Sobre a condição do cidadão perante a aplicação das leis
Sobre a incompetência no fazer valer nacional
Sobre a ignorância da manutenção da ordem
Sobre o desprezo da condição de ser humano
Sobre o abuso do poder em todas as escalas
Sobre o caos que germinamos
Sobre a personalidade e os processos mentais
Sobre as crises existenciais e tal
Sobre qualquer coisa que eu copiasse da internet ou de um jornaleco local
Hoje eu poderia fazer qualquer outra coisa
Mas hoje eu prefiro
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
"não quero usar tantas palavras, nem lhes prender num sermão tão chato..."
Vou apenas transcrever um texto que gostaria de ter escrito, "Bar ruim é lindo, bicho", de Antonio Prata.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Desafogando
O artista sente e transmite - cada pessoa pode se identificar, gostar ou não. Como classificar Beethoven, Bach e Vivaldi? Peguemos a 5ª, Fuga em G e as Quatro Estações, qual é a melhor? Quais critérios podem utilizar para classificá-las num pódio? Várias pessoas podem não gostar de um ou gostar de outro, mas é ilegítimo dizer que um é melhor que outro. Assim como colocando Pessoa, Drummond e Rimbaud em um embate eu posso ter minhas preferências e afinidades, mas como eu vou classificá-los? É claro que estou falando de gênios imortais que ultrapassaram seu tempo.
Mas trazendo para a realidade atual, um júri técnico tem lá seus critérios, mas para ser técnico, não pode deixar sua subjetividade influenciá-lo, e agora? Qual a unidade da arte? Não há. Arte não pode ser julgada com legitimidade.
Entre Picassos e Michelangelos não há vencedor, entre meros mortais também não, mesmo que digam o contrário. Estamos fadados a ser julgados, avaliados, classificados, até o fim de nossas vidas, ou quase. Qualquer um pode perceber que um grande artista só é devidamente reconhecido próximo ou depois da morte.
Abaixo o poema do concurso, que lerei novamente dia 14 na 2ª feira do livro
Desafogo
A linha do horizonte
é tênua e árdua
é nosso matrimônio
Nos une e nos corta ao meio
A imensidão em nós se espelha
Morte e Salvação
Vida e Perdição
Começo e Fim
O horizonte nos reflete
Quem sou eu? Quem é você?
No fim não há diferença
A quem chegar, um troféu
De ouro, marfim, sal e algodão.
No caminho de casa, todos podem te ver
Na saída, querem tocar sem poder
Quanto mais perto, mais distante parece
Ao beijar-te no horizonte, sinto que estou livre.
Sinto nossa assimetria
De um lado, uma promessa
Do outro, uma dívida
Dos dois, uma dádiva - de quem não se sabe.
Sinto que podemos enganar a todos,
mesmo estando enganados
Calmos e Selvagens
O lobo e a ovelha
O mundo é o meu pastor
e tudo me faltará
E no fim, em ti acabarei
Com ou sem esperança
Com ou sem crença
Sem mágoa ou doença
e a pureza de uma criança
"Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena"
.
E até a próxima quarta.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Da vontade de ser notado, ou se mostrar conhecimento ou qualquer baboseira.
Não precisamos, realmente, de um parecer de outrem, mas externar, no mínimo, algum sentimento para qualquer estranho perfeito ou espelho torto.
Estar sujeito a piadas ou "intelectuais polemizadores".
Por ser uma análise em praça pública, escrever num blog é se prostrar no meio da multidão e pedir pra ser apedrejado esperando ser cultuado.
E assinalar um compromisso consigo fingindo ser com outros, querer "alguém" em quem desabar suas desventuras e acasos diários.
Ou simplesmente um lugar onde se tem liberdade sem a preocupação em ser censurado, apenas em ser criticado, que pode doer mais que a censura, dependendo do caso, e não deixa de ser como fazer análise.
Escrever faz sofrer
Sofrer faz escrever
Não lembro bem a ordem da história e nem se altera em algo, sei que pensar demais é angustiante e me prendo a canções. E me liberto em canções, cada palavra em mim é um grilhão que ao ser escrita se rompe.
Escrevo num blog porque não sei falar.
"Vou me encontrar longe do meu lugar"
.